quinta-feira, 23 de maio de 2013

A Situação dos Jovens Universitários São-tomenses Descendentes de Cabo-verdianos (JUSDC) em Cabo verde no tocante à sua Identidade e Integração


A Situação dos Jovens Universitários São-tomenses Descendentes de Cabo-verdianos (JUSDC) em Cabo verde no tocante à sua Identidade e Integração

23 Maio 2013
A Situação dos Jovens Universitários São-tomenses Descendentes de Cabo-verdianos (JUSDC) em Cabo verde no tocante à sua Identidade e Integração
Os jovens universitários são-tomenses descendentes de cabo-verdianos são filhos, netos e bisnetos dos cabo-verdianos que emigraram para as roças de S. Tomé e Príncipe a partir de 1940, altura em que o arquipélago de Cabo Verde passou por circunstâncias dramáticas, nomeadamente crises cíclicas, falta de chuva e prática agrícola insuficiente.
Em 2007 começaram a desembarcar em Cabo Verde a fim de fazerem a formação superior sob a responsabilidade do governo deste país.
O apoio a esses jovens para a formação superior em Cabo Verde foi uma estratégia criada pelo supracitado governo para ajudar a diáspora cabo-verdiana em S. Tomé e Príncipe.
Identidade e Integração dos JUSDC em Cabo Verde
Importa referir que do ponto de vista sociológico “toda e qualquer identidade é construída”, como afirma CASTELLS (2007: 4).
Em Cabo Verde, os jovens em causa identificam-se como são-tomenses por uma série de razões, a saber: Serem vistos e tratados como tal, terem nascido e crescidos em São Tomé e Príncipe e constituirem uma minoria em relação aos cabo-verdianos nascidos em Cabo Verde.
Na verdade, a questão de se identificarem como são-tomenses ou cabo-verdianos depende dos interesses dos actores sociais e das relações tecidas com e nos grupos sociais. Isso porque, os que possuem a nacionalidade cabo-verdiana identificam-se também como cabo-verdianos em termos de identidade jurídica (bilhete de identidade), tirando proveito das vantagens da referida nacionalidade quando necessário (constituindo também um meio para atingir um fim). Neste sentido, consideramos numa perspectiva sociologica, a identidade como uma “máscara de disfarce”.
O facto de serem vistos e tratados como são-tomenses pela sociedade cabo-verdiana faz com que construam a sua imagem como são-tomenses. Daí que SAINT-MAURICE (1997) chama atenção para o conceito de “imagem” como resultado da representação do seu próprio “eu” (no caso de identidade pessoal) ou do “nós” (no caso da identidade social). Por diferença ou oposição e na interacção com a sociedade receptora (cabo-verdiana), os estudantes constroem a sua identidade, ou seja, marcam a sua exterioridade a partir das representações que fazem dos outros e de si próprios, independentemente da sua vontade.
O conceito de identidade é um produto de interação social múltiplo, visto que  os universitários são-tomenses descendentes de cabo-verdianos constroem a sua identidade na interação com a comunidade são-tomense e cabo-verdiana.
Nestes casos, ficam com um pé numa cultura e outro noutra. Na óptica de PAIS (2009) são “seres diatópicos”, articulam e desarticulam identidades nas suas interacções, identificando-se ora como são-tomenses, ora como cabo-verdianos. Sendo assim, as suas identidades, cujo carácter é flexível e dinâmico, são forjadas pela síntese de uma multiplicidade de contribuições culturais são-tomenses e cabo-verdianas e não apenas por uma única referência cultural. As fronteiras que os separam das duas culturas são movíveis, e essa mobilidade depende da imagem que os mesmos têm de si próprios e também da que fazem de si quando confrontados com o outro, o que nos leva a dizer que esses universitários possuem uma“identidade líquida”.
Pelo facto de serem estudantes e, consequentemente, fazerem parte de uma elite intelectual e de, por causa disso, terem um “status social” diferente dos outros imigrantes (diga-se de passagem que nesse aspecto são privilegiados), a  sua integração processou-se de forma suave, equilibrada e consciente. Apesar de as suas relações serem tecidas em diferentes grupos sociais, nunca perderam a sua identidade, visto que é algo socialmente construído. Sendo assim, importa realçar que eles sabem salvaguardar os seus direitos.
Não obstante algumas dificuldades relacionadas com o afastamento da terra natal, estilo e condições de vida dos cabo-verdianos e bolsas de estudos, de um modo geral estão bem integrados na sociedade cabo-verdiana, pois estão a par das ocorrências, têm o apoio da comunidade em que estão inseridos, respeitam e são respeitados, não são discriminados,  têm oportunidades para participar nas actividades, grupos, em  movimentos e  relacionam-se bem com os indivíduos da sociedade acolhedora.
O facto de eles terem encontrado familiares que lhes atribuíram algum tipo de apoio (moral, material e/ou financeiro) constitui um factor importante, mas não determinante no tocante à sua integração em Cabo Verde. Isto porque há outros factores que têm também o seu peso nessa questão, casos de participação em associações, movimentos, actividades ou grupos de bairro e prática desportiva. Porém, gostaríamos de salientar que cada um desses aspectos individualmente não determina a integração dos universitários em questão, pois para que essa integração se efective de facto é necessária uma conjugação de factores.

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